05 junho 2013

Soubesse eu Ser

Soubesse eu pôr o coração em palavras. Soubesse eu sentir por letras, esvaziando o meu íntimo para um pedaço de papel, transferindo cada dor e cada lágrima por lápis, apagando-as com um simples passar de borracha.
Fosse a vida uma tela, bania todos os tons cinza e todas as suas misturas, do meu quadro mal pintado. Sobrepunha cor a cada traço mal colocado e recortava arestas mal limadas.
Sentisse eu por melodia, afinaria cada corda e tecla, extravasando-a de ritmo e calor, pondo um fim às notas melancólicas e sombrias.
Mostrasse o tempo a minha alma, construía pontes sobre as enchentes, e largos guarda-chuvas para proteger o que tenta sobreviver aqui dentro.
Sendo apenas humana, faço por aceitar os abismos que a vida me põe à frente para superar. Crio rios de esperança nos quais me possa boiar, e leitos de força aos quais me possa agarrar.
Sendo eu apenas humana, aceito que também apenas o sejas; que em parte te tenha posto uma carga demasiado grande de expectativas mal colocadas aos ombros, impossibilitando-te o teu direito de seres imperfeito por vezes, na escalada da tua montanha.

Sendo humanos, espero que um dia compreendas o quão perfeito é a junção de um papel e de um lápis. Que embora sejam tão diferentes na sua estrutura, são esculpidos do mesmo e criam histórias. Que aceites que é necessária água para a tinta fluir em tela, criando mundos. Que aprendas que é preciso tempo e dedicação para tocar a mais bela melodia em qualquer instrumento, criando momentos. Que te rendas ao facto de o tempo não ser controlado por nós e de termos que saber ajustar as nossas vidas a cada estação do ano, seja primavera, seja outono. 
Que finalmente repares que por cada folha caída, uma flor leva o seu tempo a nascer.

Um comentário:

Anônimo disse...

"Por mais dificil que seja o problema nunca cruze os braços, pois lembre-se que o Maior Homem do mundo morreu de braços abertos." Nunca desistas daquilo que realmente amas."